sexta-feira, 4 de março de 2011

A nossa Justiça e a Justiça de Deus

Nós, humanos, temos um sentimento de justiça que se encontra arraigado em nossas mentes. Podemos dizer que todo ser humano carrega, logo ao nascer, a sensibilidade necessária para discernir o bem do mal, o justo do injusto, o certo do errado. A vida em sociedade vai fazer com que a pessoa desenvolva esses sentimentos, aprimorando suas visões, tornando-a uma pessoa cada vez mais justa...
Como também poderá ocorrer que as experiências da vida tornem a pessoa mais insensível a esses sentimentos, como ocorre na doutrinação dos soldados destinadoa à guerra. Isso, certamente, não significa que a pessoa não seja justa ou não saiba o que é certo e o que é errado, mas que ela teve a liberdade de, embora conhecendo as diferenças, optou por esse caminho.

Não me ocorre que esse sentimento inato de justiça venha de outra origem que não seja Deus.

Então me vem, a partir desses argumentos, uma primeira conclusão: Se nós, seres humanos, infinitamente inferiores a Deus, cujos sentimentos, inteligência, capacidade...  tudo foi concedido por Deus, temos uma noção do que seja justo e correto, muito mais o terá o próprio Deus, que nos dispensou apenas uma fagulha de sua incomensurável sabedoria.

Se me considero um sujeito razoavelmente justo, e se tenho Deus como SER superior a mim em tudo, somente posso supor que Deus seja infinitamente mais justo do que eu.

Sendo nós um pouco justos e sabendo que Deus encerra em si toda a justiça, podemos, com fundados argumentos, acreditar que a justiça de Deus será sempre superior a nossa. Mas não contrária a ela.

Isso implica que todos os meus sentimentos de justiça são superados pelo conceito divino de justiça. Assim, de acordo com essa sabedoria que Deus me deu, não me é permitido que eu tenha como justos atos de injustiça, sob o argumento de que foram praticados por Deus, e minha sabedoria não é capaz de compreender a natureza da justiça dele.

De fato, a sabedoria do ser humano não é capaz de alcançar e, às vezes, nem de compreender a de Deus. Mas uma coisa considero perfeitamente correta: a justiça de Deus é certamente superior a do homem, mas não contrária a ela. Posso crer que o sentimento de justiça de Deus será sempre superior a nosso, mas contrário ao nosso.

Desse modo, se, de acordo com a sabedoria que Deus me concedeu, considero injusto um pai preferir um filho ao outro, não posso aceitar como sendo de Deus a escolha por um irmão em prejuízo do outro, pois essa escolha de um e a consequente rejeição de outro contraria o sentimento de justiça que Deus implantou em mim.

Essas ponderações me levam a um outro questionamento: nesses episódios em que a Bíblia menciona essas escolhas atribuídas a Deus, que preferiu uns e rejeitou outros, teriam sido, de fato, uma escolha de Deus, ou estaria presente ali a humanidade do escritor bíblico ou mesmo da personagem?

Os que defendem a inspiração bíblica como se fora ocorrida com Deus ditando palavra a palavra, me terão certamente como herege, pois sustentam que tudo que se encontra na Bíblia foi textualmente dito por Deus.

Me filio aos que defendem as Sagradas Escrituras como INSPIRADAS, não DITADAS, por Deus. Dessa forma, Deus deu ao escritor a idéia ou a essência do que desejava transmitir e o escritor realizou seu trabalho sem, todavia, isentar-se ou ausentar-se de sua própria personalidade.

O que o escritor bíblico escreveu, defendo, tem, em essência, o que Deus desejava transmitir, mas no desenvolvimento da ideia, o autor, e aqui não me refiro a Deus, colocou um pouco, ou muito, de seus conceitos e preconceitos pessoais, dos costumes de sua época, e da tradição de seu país, tribo, familia.

Assim, quando leio esses trechos onde se atribui a Deus escolhas que desafiam nosso sentimento de justiça, somente posso ver ali uma ideia pessoal do escritor, como acontece em muitas passagens escritas pelo apóstolo Paulo em relação à mulher.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Adicionar